Ah… o Amor.



 
É engraçado esse sentimento.
Na verdade é engraçado o modo como isso que chega sem avisar toma proporções inimagináveis.
Ele veio, bateu na porta e quando eu abri, nem se apresentou. Foi entrando ali pela pequena abertura que provoquei somente pra olhar quem estava do lado de fora.
Tenho a impressão que se pudesse ter entrado pelo buraco da fechadura, o faria.
Foi tomando conta da casa. Quando eu menos esperava ele já estava deitado no sofá com os pés esticados na mesa de centro. Já tinha começado a atacar a geladeira e ainda a fechar a porta dela com o pé. Aí, pronto.

Passou a usar a minha escova de dentes, a minha toalha e a roubar comida do meu prato. Se eu colocava coca-cola pra mim, ele já agradecia, enquanto pegava da minha mão o copo, achando que era pra ele.
TEM SENTIMENTO MAIS FOLGADO QUE ESSE?
Poxa! Os outros sentimentos que antes me acompanhavam foram parando de me visitar. A casa ficou tão.. tão… dele, que só quem passou a frenquentá-la foram os amigos do dito cujo.
Fui obrigada a conviver com aquela tal de Felicidade, aquela fulana que chamam de Paixão, um idiota de nome Ciúme e uma criatura toda cheia de si, a Confiança.
Meus amigos não se davam bem com esses. Como aquela minha amiga de anos, a Tristeza, ia me visitar com a Felicidade ofuscando-a? Com a tal da Confiança demonstrando todos os seus atrativos, como que a Baixa Auto-estima ia aparecer pra gente conversar?
Qual é!? Um maluco, um folgado, esse Amor.
Agora deu pra querer reformar a casa!
Chegou aqui com uma tropa: Carinho, Sinceridade, Delicadeza, Preocupação e Bem-estar. E começaram a arrumar tudo quanto era buraco e rachadura que a minha casinha, o meu velho coração, levou anos para obter.

(Desculpe-me o palavrão.. mas…) PORRA! Como pode uma coisa dessas?
E eu nem posso reclamar mais. Porque ele tomou conta do espaço. E o pior, você não sabe ainda: eu gostei.
Eu gostei dessa intromissão dele. Desse jeito possessivo que ele preencheu a minha vida.
Eu não me importo quando ele fecha a porta da geladeira com o pé, ou se esparrama no sofá da sala. Ele precisou de espaço. E exagerado como é, ocupou até os que não estavam disponíveis.
Não quero mais a minha casa, que agora é toda arrumadinha, toda ajeitadinha, sem rachaduras e marcas do tempo, fique vazia.
Mais que isso. Não quero que ele, esse Amor que conheci vá embora.
Dizem que existem vários dele por aí.

Mas esse eu não troco.
Esse é especial.
Esse é meu.
Meu Amor

Muito prazer. eu existo

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